A roda viva

Eis que às vezes me surpreendo comigo mesma e não sei de onde vem o que sinto. Pode ser qualquer coisa: uma reação meio atravessada no trabalho, um desânimo no final de semana, uma crise de riso inesperada… Vivo comigo há mais de quatro décadas… Não era de se esperar que conhecesse (muito bem) cada cantinho dentro de mim?

Nessas horas é sempre a voz do Chico que soa no meu ouvido e me conta de como a roda da vida mistura as coisas dentro e fora de mim.

 

Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega o destino pra lá
Roda mundo, roda-gigante
Roda-moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coraçãoA gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a roseira pra lá
Roda mundo (etc.)A roda da saia, a mulata
Não quer mais rodar, não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa
Viola na rua, a cantar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a viola pra lá
Roda mundo (etc.)

O samba, a viola, a roseira
Um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a saudade pra lá
Roda mundo (etc.)

1967 © by Editora Musical Arlequim Ltda.


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Trilha para um dia de chuva

Para lembrar de um lugar frio

Para lembrar de um tempo confuso

Para trazer o sol pra dentro