Requisitos para ser uma pessoa normal

O filme é despretensioso, tem uma estética que adorei – pelas cores, pelos objetos, pelas texturas… E um enredo que mais parece uma conversa, o tipo de coisa que procuro para o final de dias longos e cansativos.

Ainda Alice

 

No meio de tudo o que aconteceu no final de semana, Julianne Moore me contou ao pé do ouvido, uma história comovente sobre uma mulher incrível, inteligente, realizada e bem amada. Que descobre que perderá tudo o que lutou para conquistar… perderá, um pouco a cada dia, a si mesma.

Alice é a heroína, e Alzheimer é o grande vilão da história, que ganha contornos especiais quando Alice usa as palavras de Elizabeth Bishop para traduzir como se sente.

Não é a primeira vez que trago este poema, mas é sem dúvida uma das interpretações mais emocionantes que já ouvi.

Elizabeth Bishop – The art of losing.

 

 

A terceira pessoa, uma história de vidas

Já vou avisando: se você está em busca de recomendações consistentes de cinema, de crítica sistemática, e conselhos entendidos… eu não sou a pessoa certa. Ainda hoje falei de um filme que gostei com o Liam Neeson e um amigo me perguntou: “Mas você gosta dele?” 

Minha resposta mais sincera: “Quando ele não está matando ninguém eu gosto!”

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Tudo isso é para dizer que o filme que assisti no final de semana e me emocionou se chama Terceira Pessoa, com o Liam Neeson e a deslumbrante Olivia Wilde. O filme conta três dramas em torno dos quais se desenrolam histórias que nada têm em comum e ao mesmo tempo apresentam muitas semelhanças.

Fala de relações falidas e de laços insipientes que podem ser suficientes para estruturar novas relações, ou pelo menos para servir de tábua de salvação. É possível sobreviver às grandes tragédias da vida, como perder um filho? Para mim o filme é sobre resiliência, e mostra algumas fórmulas que desenvolvemos para superar o insuperável, dores tão profundas que só de imaginar dilaceram a nossa alma.

Das histórias contadas, a mais atroz, a que mais dilacerou a minha alma é da Olivia Wilde. Ela me mostra, mais uma vez, o quanto a minha avó tinha razão quando repetia do alto da sua sabedoria o dito popular que conheço como ninguém:

Coração dos outros é hora que ninguém caminha.

*P.S. – As críticas do filme são péssimas… mas nunca dei a mínima pra elas mesmo.

Mais estranho que a ficção

Mais estranho que a ficção

O dom que mais cobiço na vida, e que não tenho, é o da música. Em segundo lugar vem o de criar estórias. Sempre desejei ser uma escritora, mas, fui crescendo e hoje tenho sérias dúvidas se o que gosto é de criar as histórias, ou de ouví-las ou – palavra esquecida que amo: fruí-las.

Sabendo mais sobre mim, descobri que sou ótima contadora de estórias, e que até posso melhorá-las… posso até criar histórias fantásticas, orais, em um momento, para que em seguida se percam na névoa da existência. Tudo isso está ligado ao grande prazer que sinto em conhecer contos.

Não tive, até hoje, sucesso em aprisionar estas histórias no papel, ou melhor ainda: lapidá-las a ponto de celebrá-las no papel.

Há muito tempo vi um filme que mostrou porque eu não sou uma escritora. Neste filme a Karen Eiffel é uma escritora britânica e excêntrica, vivida por Emma Thompson, que está em busca do final perfeito para o seu livro. Com o qual ela desenvolve uma relação pulsante, profunda… real. Não me passa desapercebida a sua habilidade de construir a vida dos personagens com tamanha riqueza de detalhes que me é difícil acreditar que ela mesma não tenha vivido aquelas situações, ou que pelo menos não tenha conhecido aquelas pessoas. E esta é a habilidade essencial de um escritor: imaginar os detalhes de cada vida, de cada relação e preencher ideias com veracidade.

Talvez seja exatamente por isso que não fiquei tão surpresa quando descobri que aquele personagem de fato existia. Era alguém de verdade e que vivia cada emoção, que realizava cada ação, e que tinha cada pensamento descrito pela Karen. O Will Ferrell está maravilhoso, ocupado em viver a sua vida e ao mesmo tempo preocupado em descobrir qual o desfecho da sua história. Ele é uma pessoa comum, mas do tipo mais esquisitos, e ao mesmo tempo mais corajosos, o tipo que faz perguntas.

Na sua busca por respostas encontra uma terapeuta, que não ajuda em nada, até que finalmente tem uma ideia brilhante e procura ajuda de alguém que realmente entende de literatura.

Adoro especialmente a cena em que ele toca a guitarra. O filme me mostra que mesmo os personagens de livro merecem o nosso respeito e consideração.

Whatever works

Este é o título do filme que trouxe o Wood Allen de volta a minha vida. Não fã incondicional do cineasta, mas gostei de ser capaz de reconhecer imediatamente a sua marca no filme. Nos primeiros 5 minutos é possível perceber que se trata de um filme do Allen.

E olha, a favor dele digo que o filme não é verborrágico, é muito engraçado e adoro a riqueza de detalhes que enchem de veracidade os pequenos dramas suburbanos ali encenados: um quase prêmio Nobel, uma quase miss, um quase casamento… O mal humor e acidez do personagem principal, Boris Yellnikoff, são maravilhosos, especialmente porque eu não tenho que viver ou conviver com ele.

A certa altura do campeonato Boris encontra Melody e acho que é muito importante que este encontro aconteça para nos lembrar que sim é possível que gente absolutamente boa e ingênua se apaixone por gente absolutamente cretina e  cética. A estória se desenrola de forma crível na minha opinião – e sei que muita gente que entende de cinema por ai discorda da mim.

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Como não se apaixonar por Melody? Com sua crença na humanidade, seus olhos lindos, seu sorriso fácil, sua luxúria adolescente?

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Acho que Boris não teve nenhuma chance, amar não o transformou em uma pessoa melhor. Mas pensando bem ele nunca foi mal… o seu defeito está no irremediável desprezo que tem pela humanidade.

Vale a pena assistir!