Eu não sou eu
sou este que vai bem a ao meu lado sem eu vê-lo;
que as vezes visito e que as vezes esqueço.
Que se cala sereno, quando falo,
que perdoa, tão doce, quando odeio
que passeia por onde não vou indo ,
que ficará de pé quando eu morrer.
Juan Ramon Gimenez – tradução Ruth Sales
O conceito é novo – para mim.
É incrível o que vai se desenhando na vida da gente, e as pessoas que vamos encontrando ao longo deste caminho, e como um novo horizonte vai se revelando a cada passo que damos em frente.
Eu não sou dada à meditação, nem yoga, nem nada que requeira ficar sentada por 5 minutos que seja, de olhos fechados respirando e olhando para dentro…
Na verdade não tenho (acho que não tenho) nenhum problema em estar comigo mesma, desde que eu possa divagar o quanto queira na direção em que me leva o meu pensamento. Basta dizer esvazie a sua mente, para que ela fique cheia, pense em tal coisa, e eu começo a pensar em um monte de outras coisas… então, nunca fui muito feliz com estes exercícios.
MÃÃÃS…Recebi um convite despretensioso para encontrar alguém que nunca vi antes em um ambiente de muita segurança para mim, o convite era para fazer uma meditação diferente, interagindo com o outro (?). E foi assim o meu primeiro encontro o Alan Pogrebinschi e com a “observadora”, que sou eu dentro de mim. Eu sou baiana, e lenta por natureza. Então já sei que estes conceitos e estas ideias, vão ficar rodando dentro de mim uma eternidade, encontrando mais e mais motivos para fazer sentido.
Depois de uma experiência marcante como essa, não foi por acaso que fiquei tão impactada com o filme Still Alice.
Quando uma pessoa tem Alzheimer, o que acontece com ela? Quem vai desaparecendo aos poucos é o observador ou são os pensamentos, os sentimentos? Fiquei pensando nisso e claro que não tenho uma resposta. Será que um processo como mindfullness pode nos ajudar quando chega essa hora? Ou diante de qualquer outro confronto com a finitude da nossa própria existência da forma como a entendemos?
Algumas palavras da Alice – do filme – ficaram ecoando na minha cabeça. Tem um momento que ela fala: “meu antigo eu”, e por mais desesperador que seja eu imagino que seja, perder-se do seu antigo eu, na minha cabeça reverbera a ideia de que também existe um novo eu. E me pergunto: Este novo “EU” surgiu naquela hora? Ou será que estamos, a vida inteira, cultivando a pessoa que uma dia nos revelaremos ser, para além do que conhecemos no dia a dia?