Cenas de um fim de semana

Estamos vivendo nossos sonhos…

O apartamento novo, cheio de pequenos detalhes que amamos e com os quais sonhamos por muito tempo. As crianças, a família crescendo e nós usando plurais para falar de filhos… É tudo e mais do que sempre imaginávamos, e no entanto é tudo tão simples, tão singelo e tão normal! Viver um sonho é como café com pão e manteiga: tão bom e tão verdadeiro, que depois de comer só nos resta suspirar!

Minha filha disse

Mãe, já passaram todos os aniversários?

eu: não, ainda tem vários… seu pai, eu, você…

ela: mas vocês não já cresceram? para quê ainda fazem aniversário?

Em busca do sonho guru…

No inicio deste ano, me comprometi publicamente com a realização de um sonho. Não um sonho qualquer, se é que isto existe, mas um sonho que me leva de encontro às minhas raízes, aos meus maiores medos e meus melhores potenciais.

Como fazer um quilt pode ser tantas coisas assim ao mesmo tempo?

Pois é… tudo isso tem muito a ver com a minha referência máxima na vida: minha mãe. Demorei muito tempo para perceber/reconhecer a importancia dela para mim, e o quanto me influenciou e influencia. Se no passado a descrevi como alguém distante, incompreensiva e excesivamente dura, hoje a descrevo como sensível, amorosa, extremamente talentosa… Mudou ela ou mudei eu? Mudamos ambas.

Mas de volta ao tal quilt, eu quero muito fazê-lo, e estou dando vários pequenos passos para me aperfeiçoar e aprender técnicas que me permitam fazer um quilt de verdade: melhorar a costura em linha reta para juntar os blocos, melhorar a margem de costura para conseguir que as peças fiquem alinhadas… Por enquanto não consigo… fica tudo um pouco torto. Mas estou decidia a superar o meu medo de errar e o meu perfeccionismo paralisante.

Quero aceitar o que de imperfeito há em mim, parar de estudar e tentar e de fato fazer algo igualmente imperfeito mas concreto. Quando soube que estava grávida fiz de tudo para aprender alguma técnica artesanal, tomei aulas (Santa Cibele!), aprendi a bordar e fiz um lindo bordado. Dai travei. Fiz mil planos… nada parecia bom.

Mas isso foi no passado, agora, em busca do meu sonho guru, a estória é outra: usei o bordado em um cobertor bem simples, lindo e … imperfeito.

Vida leva eu… pro caminho certo

Conheci o Rodrigo Caçapa estudante de arquitetura, parte de um grupo incrível e talentoso de outros jovens de Recife. Através destes queridos amigos: Wagner, Bruno, Chico, Lula Boy, conheci a música mágica do Chico Science e Nação Zumbi. Lembro bem de ter visto este grupo, com seus chapéis de palha e bermudas longas, camisetas largas, dançando sob o pórtico da faculdade de Arquitetura da Bahia… Dançavam de um jeito que eu nunca tinha visto antes… dançavam e viviam. Lembro de ter pensado: ser jovem não é igual em qualquer lugar do mundo, em Recife é diferente. Talvez tenha sido a primeira vez que me imaginei no futuro, e sonhei ter um filho, uma filha, que nascesse em um lugar assim, onde ser jovem fosse também um caminho para se conectar às suas raizes. Engraçado isso… Acho que no fundo eu é que tinha vontade de ser assim.

A vida nos levou por não sei que caminhos, não nos encontramos mais, ou nos encontramos muito pouco. Lembro de ter ficado um pouco triste quando soube que Caçapa largou a arquitetura, e um bocado alegre quando soube que abraçou a música. A última vez que nos vimos foi em Recife, Leandro e eu conecendo Recife e Olinda e Caçapa nos apresentou o Maracatu. Voltei encantada com tudo o que vi e comi naquelas terras, a fava, a carne de sol com macaxeira, a tapioca com côco e quieijo… Hummmm…

Depois disso nos encontramos no Facebook, e hoje assisti um video, reconheço o sorriso, reconheço o olhar e me alegro por ouvir tanto saber de música. Escolha acertada me parece… Não sei se era bom arquiteto, mas como músico convence muito. Só fiquei curiosa para saber onde compro o cd.

Um dia frio

“Eu tava triste,tristinho…”
Quando o Baleiro canta isso tem mais graça, aliás a tristeza é muito linda na música, nada bonita no coração da gente.

A mesma velha (e triste) história

Esta semana em que estamos recebendo os e-mails diários do Dialisson nos atualizando sobre os fatos em Santa Catarina, nos chegam as informações sobre outros desastres acontecidos em terras de além mar. Fico pensando, e me atrapalha pensar… na urgência da tarefa de preparar o OASIS para atender necessidades emergentes para situações emergentes. O primeiro passo está dado: uma rede de pessoas dispostas a agir imediatamente, com os recursos disponíveis, para transformar em espaços físicos saudáveis lugares que foram atingidos por alguma mazela social, econômica, ambiental.

Reconheço que diante do volume, do barulho, do ruído assombroso dos desastres dos quais estamos falando, tendo a reagir da forma que queremos combater, reafirmando as crenças sedimentadas: fugindo, desmaiando – reações biológicas naturais diante de situações de perigo.

Me manter conectada com a energia da proatividade, não perder o foco no que posso fazer agora, neste momento,é o meu desafio de hoje.

A junção dos relatos do Dialisson com as fotos dos estragos causados pelo tufão nas Filipinas me deixaram pensando muito sobre o que aconteceu com o projeto de lei para o novo código ambiental de Santa Catarina. Ao que parece não posso confiar apenas no bom senso humano: não somos sensatos! Não reconheceríamos a tal sustentabilidade nem que ela nos pisasse a cabeça… Eu tenho dificuldades de tomar decisões no hoje de forma a garantir que não me prejudique amanhã… é assim na educação da minha filha, e olha que estou aprendendo muito! Quero dizer com isso que apesar da palvra constar do dicionário a muito tempo, ainda estamos construindo em nós o sentido de seres sustentáveis. Enquanto isso vamos sofrendo as consequências da nossa “insustentável forma de ser”.

As imagens do Ondoy chegaram tão vívidas à minha tela de computador! E quase ao mesmo tempo que me chegaram os relatos do que aconteceu em Santa Catarina… Não posso evitar pensar que o mundo inteiro está irmanado nisso, e que o OASIS que construímos aqui pode ser uma resposta para todos os lugares.

A ponte que foi construídadurante o OASIS não caiu! Este é para mim um sinal poderoso de que estamos no caminho certo.

A maré de destruição - foto do site Big Picture

Onodoy 2

Ai que raiva da Maitê Proença!

Uma vida inventada memórias trocadas e outras histórias. Esse é o livro que leio antes de dormir… 15 minutos ou o quanto agüento…ou o que o sono deixa… o que vier primeiro.

Em geral o que vem primeiro é uma raiva dela… da Maitê. Vontade de não ler mais nada para não ficar dando ibope…ou continuar lendo pela doce vingança  de contribuir para fazer pública sua dor, sua intimidade… ser mais uma estranha lançando o olhar imundamente curioso sobre sua vida espalhada ali para quem quiser ver…

Ai que raiva!

Respiro fundo… não sou dada a raivas, ainda mais por gente que não conheço de verdade, que não me fez mal algum… Mas não posso evitar, é como se ela escrevesse para me magoar… como se revelasse tanto de si para me confrontar…

Eu me pergunto se alguém pode mesmo viver a vida assim, com tanta consciência… com tanta ciência de si mesma o tempo inteiro, e eu mesma me respondo: claro que não! Ela finge! Usa truques de escritora e atriz para construir uma vida que parece cheia de aventuras e profundezas…

Mas de verdade alguma coisa me faz desconfiar que não… vai ver que foi isso mesmo, que a menina pensou durante partida de soft-ball, sentiu o cheiro de mofo na cama, percebeu o mundo ao seu redor enquanto sua mãe… morta lá não sei onde, escondida (espero) dos olhos, da curiosidade mórbida de todos nós.

Ai que raiva de mim… morna.

Eu que fico inventando dores, que fico inventando aventuras… nada me toca, e isso é assustador. Eu tento… mas não adianta.

Talvez seja por causa do medo… me dou conta que a maior parte do tempo o que sinto é medo. Finjo que não… mas sinto medo.

O medo maior, e talvez único: não vão gostar de mim. Tenho essa certeza quase absoluta de que não vão gostar… e para garantir que gostem fico morna: nem quente nem frio, nem doce nem salgado… nada de extremos… sempre aqui pelo meio…

Ai que raiva de mim…

E agora parece que me perdi de vez: quero achar minha voz, mas escondi por tanto tempo e tão bem escondida que não consigo ouvir o que a tal voz fala.

E tanta gente quer me ajudar que aaaahhhhh…. muito eco. Não consigo ouvir a voz.

E ai vem as maluquices: e se eu tivesse um câncer, um acidente de carro… sei lá, uma experiência tão forte que me arrancasse do transe?

Qual nada! O ano passado fui assaltada a mão armada, grávida de 5 meses… fiz xixi nas calças e pronto… nenhum trauma. Só fiquei preocupada com o dinheiro que era da ONG, com o banco do carro do meu amigo (e o que iam pensar de mim)… Mas nenhuma epifania, nenhuma revelação… perdi a oportunidade.

Vou escrevendo e a raiva da Maitê vai passando. Passando pra onde? Vinda de onde? Não sei…

E o que não sei de mim anda me intrigando tanto.

The Air Game

words

If you were a Warrior Without Weapons 2007, you would know I am not exagerating when I say this group was very verbal. Gosh we could talk! In the Fire Councils we inaugurated the tradition of translating the words in the languages of all people present, including the dialects. That’s why the story I am about to tell you moved me so much.

The night before the air game, I was tired… I looked for a light, thin, small bamboo, to make my flute… I don’t remember who helped me out, but I sure had some help to make my only flute, maybe that’s why I had the time to observe the ability of Bane, who made many and distributed them among those with less ability, or as tired as I was.

If you knew me (but only if you knew me really well), you would know I love to walk in the woods, especially if we are talking about going up hills and mountains, I love to go up high – I have to say that this feature of mine relies under layers of inertia, a sedentary life and God knows what else.

That explains why I was so happy in the air game day… that’s why I didn’t feel tired, I didn’t fear the snakes, and I didn’t notice the guide explaining the orchids… I was in touch with my inner world, with the exuberance of the woods outside, with the proximity of the blue sky, with Manu’s smile… In this day we talked – Manu and I – we got closer to each other, I remember well.

The highest point of the day for me was when, after we got to go around the circle 7 times – sounds a lot now – blowing our bamboo flutes, kaka asked if anyone had anything to say. I searched in the place where I usually find my words and they were not there… so I went a little deeper, where I search the words for special moments… nothing! I went even deeper, in a place inside were I rarely go and where, usually, what I find there is not easy to verbalize; this place was still full, but quiet… a warm and cozy silence. I stood there enjoying this moment, till I realized no one… I mean NOT EVEN A SOUL had anything to share.

Immediately I knew something was going on, I can’t say it was magic, but certainly special. And it was happening for all of us.

After that, Kaka explained that the game we just played “cleaned” a generation of words of our minds, every time we completed a round around the circle. End boy, we completed many! He also mentioned that the slight torpor we felt in our mouths would help us to think more before speaking, and speak more from our hearts.

This game really got me… every now and then I remember it, and try to keep my mouth connected to my heart… It is not easy… not at all! But trying fells kind of good.