Mais estranho que a ficção

Mais estranho que a ficção

O dom que mais cobiço na vida, e que não tenho, é o da música. Em segundo lugar vem o de criar estórias. Sempre desejei ser uma escritora, mas, fui crescendo e hoje tenho sérias dúvidas se o que gosto é de criar as histórias, ou de ouví-las ou – palavra esquecida que amo: fruí-las.

Sabendo mais sobre mim, descobri que sou ótima contadora de estórias, e que até posso melhorá-las… posso até criar histórias fantásticas, orais, em um momento, para que em seguida se percam na névoa da existência. Tudo isso está ligado ao grande prazer que sinto em conhecer contos.

Não tive, até hoje, sucesso em aprisionar estas histórias no papel, ou melhor ainda: lapidá-las a ponto de celebrá-las no papel.

Há muito tempo vi um filme que mostrou porque eu não sou uma escritora. Neste filme a Karen Eiffel é uma escritora britânica e excêntrica, vivida por Emma Thompson, que está em busca do final perfeito para o seu livro. Com o qual ela desenvolve uma relação pulsante, profunda… real. Não me passa desapercebida a sua habilidade de construir a vida dos personagens com tamanha riqueza de detalhes que me é difícil acreditar que ela mesma não tenha vivido aquelas situações, ou que pelo menos não tenha conhecido aquelas pessoas. E esta é a habilidade essencial de um escritor: imaginar os detalhes de cada vida, de cada relação e preencher ideias com veracidade.

Talvez seja exatamente por isso que não fiquei tão surpresa quando descobri que aquele personagem de fato existia. Era alguém de verdade e que vivia cada emoção, que realizava cada ação, e que tinha cada pensamento descrito pela Karen. O Will Ferrell está maravilhoso, ocupado em viver a sua vida e ao mesmo tempo preocupado em descobrir qual o desfecho da sua história. Ele é uma pessoa comum, mas do tipo mais esquisitos, e ao mesmo tempo mais corajosos, o tipo que faz perguntas.

Na sua busca por respostas encontra uma terapeuta, que não ajuda em nada, até que finalmente tem uma ideia brilhante e procura ajuda de alguém que realmente entende de literatura.

Adoro especialmente a cena em que ele toca a guitarra. O filme me mostra que mesmo os personagens de livro merecem o nosso respeito e consideração.